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  • Conheça Enedina Alves Marques

    Se voltarmos aos anos 1940 e pensarmos o quanto era diferente, naquele momento, para os negros e as mulheres devido a muito preconceito que, infelizmente, perdura até hoje, vamos compreender o quão fantástica foi a vida de Enedina Alves Marques (1913-1981).

    Ela foi a primeira mulher e engenheira negra do país. Apesar de tudo que lhe foi imposto, ela trabalhou muito, recusou-se a desistir e nunca aceitou as limitações que existiam naquela época. Ela desafiou as expectativas sociais e escolheu como seria seu destino; em uma sociedade que queria que ela se tornasse tudo, menos o que ela realmente queria.

    Filha de um casal negro do êxodo rural após a abolição da escravatura (1888), Enedina cresceu na casa do major Domingos Nascimento Sobrinho, em Curitiba, onde sua mãe trabalhava. Ele pagou seus estudos em uma escola particular para fazer companhia à filha. Enedina foi para a escola e recebeu instrução educacional. Mas ela também acompanhava e era preparada pela mãe para o trabalho doméstico: ela costurava, cozinhava, bordava e tricotava. Mesmo em criança, ela já trabalhava como babá e doméstica. Enedina foi alfabetizada aos 12 anos e, na escola, era considerada uma aluna inteligente e aplicada.

    Aos 13 anos, ingressou no Instituto de Educação do Paraná, sempre trabalhando como empregada doméstica e babá em casas de elite de Curitiba para custear os estudos. Ela terminou a escola em 1931 e se formou como professora do ensino médio.

    Então, em 1932, ela passou a dar aulas para crianças que hoje estariam do 1º ao 5º ano. Ela teve que lidar com todo tipo de preconceito social e moral para se matricular, em 1940, em uma turma formada apenas por homens brancos na universidade.

    Ser mulher não facilitou as coisas. As mulheres estavam destinadas a ser donas de casa e também não era fácil arranjar emprego. As opções limitavam-se a um cargo de professora ou funcionária de fábrica, com salários inferiores aos dos homens. Mas ela continuou e conseguiu se formar com sucesso em Engenharia Civil, tornando-se a primeira mulher a fazer o ensino superior no Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil.

    Assim que se formou, Enedina começou a trabalhar como auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas. Depois de um tempo, foi descoberta pelo então governador Moisés Lupion e passou a trabalhar na Secretaria de Estado de Águas e Energia Elétrica do Paraná.

    Como engenheira, participou de várias obras importantes no estado, como a Usina Capivari-Cachoeira (atual Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, a maior hidrelétrica subterrânea do sul do país) e a construção da o Colégio Estadual do Paraná.

    O engraçado sobre ela é que costumava usar macacão e sempre carregava uma arma na cintura, então sempre que queria se sentir respeitada pelos outros, ela atirava para o ar.

    Após alguns anos trabalhando e consolidando sua carreira, Enedina começou a viajar pelo mundo entre as décadas de 1950 e 1960. Em 1958, o Major Domingos Nascimento faleceu e a deixou como uma das beneficiárias de seu testamento.

    Ao longo de sua vida, ela conquistou o respeito de centenas de trabalhadores, técnicos e engenheiros. O Memorial da Mulher foi construído em Curitiba para comemorar os 500 anos do Brasil, que homenageou e imortalizou 54 personalidades femininas - entre elas, Enedina.

    Há também o Instituto da Mulher Negra Enedina Alves Marques. Um lugar de luta contra a invisibilidade racial que atinge mulheres e homens negros em diversos setores.

    Enedina não se casou nem teve filhos. Ela foi encontrada morta aos 68 anos. Como não tinha família por perto, o corpo demorou muito para ser encontrado. Mesmo depois de sua morte, ela continuou a inspirar as pessoas. Em 1988, uma rua importante foi batizada em sua homenagem no bairro de Curitiba. Mesmo depois de muito tempo, ela é um grande exemplo de persistência e superação de todos os obstáculos que aparecem em nossas vidas.